Archimboldi

Autor fugidio e enigmático, de obra fascinante, Benno von Archimboldi consome a vida dos críticos que se dedicam a estudar seu trabalho em “A parte dos críticos”, no romance 2666, de Roberto Bolaño. Seu nome representa para nós uma visão da ficção como arte e força, e sua trajetória como personagem nos oferece um vislumbre dos laços potencialmente misteriosos e complexos entre vida e obra. A Coleção Archimboldi busca promover e divulgar o trabalho de narradores que inventam formas de contar histórias e formas de ser em literatura hoje, lançando mão dos recursos do romance, do conto, das memórias, da autobiografia, da biografia ou do diário.

Marginalia

É possível que Barthes, ao sugerir um processo de “escrever a leitura” como um devir da crítica, tivesse em mente essas anotações que fazemos à margem dos textos que lemos. Instrumento de memória, de estudo, de inscrição da leitura no livro, a marginalia é muitas vezes o depósito inicial dos nossos passos como leitores. A Coleção Marginalia busca evocar em seu nome as produções críticas e ensaísticas contemporâneas que, acreditamos, guardam uma relação de proximidade com esse momento mais privado e aventureiro da leitura, trampolim da produção crítica mais radical, risco que o sujeito realiza na página.

Kalela

Kalela é o nome de uma dança popular no Cinturão do Cobre na Rodésia do Norte, associada a um uso particular das relações zombeteiras que, através da música, dança, e jogo, se traduz numa força importante de integração e cooperação para grupos que previamente viviam em guerra. Nomeamos esta coleção assim por acreditarmos no jogo como tática para desmanchar hierarquias e desigualdades e, principalmente, por acreditar que é nas relações jocosas e inventivas com a tradição antropológica que a boa etnografia engendra novas possibilidade do saber sobre a alteridade.

Kalela-Congá

O congá é o ponto mais forte dentro de um terreiro: é lá onde se concentra a vitalidade da força que mobiliza pessoas, corpos, coisas e experiências. Ao mesmo tempo, conga também é um espaço físico, um lugar de exposição e de articulação. Esta série reúne livros monográficos e obras organizadas que gravitam em torno do tema da religião. Com ela, procuramos concentrar e articular, para fazer circular, a força de debates que mobilizam os interesses da área, assim como expor e dar visibilidade àquilo que é potente para manter ativa a energia do campo.

Kalela-Quipu

Os Quipu são dispositivos mnemotécnicos usados originariamente nos Andes pré-hispânicos, feitos de cordas coloridas, laços e nos, para mensurar, registrar, representar e moldar tempos, geografias, objetos, pessoas e outras agências. Nesta coleção de livros, organizada pelo Núcleo de Pesquisa em Cultura e Economia (nucec.net) procuramos explorar a afinidade entre esses dispositivos e a atividade de fazer e de escrever etnografias, jogando com diferentes escalas, questionando fronteiras entre domínios e formas do conhecimento, compreendendo através dos múltiplos pontos de vista e das diferentes formas de conceituar a experiência humana.

Micrograma

Por muitos anos o autor suiço-alemão Robert Walser (1878-1956) confinou secretamente seus escritos a uma caligrafia diminuta, realizada a lápis em sobras e pedaços de papel da mais variada proveniência. Decifrados e traduzidos muitos anos depois de sua morte, representam para nós uma manifestação do que há de mais improvável e maravilhoso na arte da escrita. A Coleção Micrograma – com seus livros em um formato menor e encadernados de maneira mais modesta, com grampo – busca honrar o engenho peculiar de Walser e de todos aqueles que, em torno de formas breves de escritura, produzem obras de ensaio, crítica e narrativa que julgamos de grande valor.

Stoner

O trabalho universitário talvez poucas vezes tenha sido tão bem retratado quanto no “campus novel” Stoner, de John Williams; nele, somos apresentados à trajetória de vida do protagonista que dá título à obra, desde suas origens humildes até o final de sua jornada de muitos anos como um acadêmico de literatura, passando pelas vicissitudes do cotidiano institucional, da docência e da pesquisa. Buscamos homenagear esse personagem no título de nossa coleção devotada a contemplar o trabalho acadêmico realizado com integridade e excelência – a tese, a dissertação, a coletânea de ensaios – em suas variadas dimensões.

Bertolt

“Rio de quem chora e choro pelos que riem”. Eis a fórmula com a qual Bertolt Brecht ousou desafiar à tradição aristotélica para caracterizar o espectador do teatro moderno. E é também como esta coleção sai à procura dos seus leitores, críticos e políticos, mas também alegres, combativos, criativos. As peças de Brecht quebram a quarta parede para distanciar o público da ilusão emocional, mas “o teatro não deixa de ser teatro, mesmo quando é didático; e, desde que seja bom teatro, diverte”. Da mesma forma, a Coleção Bertolt busca quebrar o prédio livresco, para construir uma leitura vital e prazerosa do texto dramático, e convocar atores e diretores, produtores e amantes do teatro, pois toda peça deveria ser como um canteiro de obras, cujo cartaz anuncie: ATENÇÃO! ARTISTAS TRABALHANDO.

Fuga

É possível colapsar a sujeição? Entendemos a fuga como um desejo que pulsa, que se usa do improviso, que se sustenta na recusa, mas que não adquire uma forma precisa porque a fuga é sempre aberta ao imprevisto. É a essas poéticas fugitivas que esta coleção se dirige: textos antirracistas, anticoloniais, lirismos que balançam o pêndulo das normas e criam movimentos capazes de desorientar o mundo que conhecemos, multiplicando as possibilidades de fantasiarmos outros sons, outras palavras, outras vidas. Como a fuga na música, textos que atrelem vozes em constante contraponto para repetir, em diferentes tempos, uma mesma melodia de recusa às supremacias. Em poucas palavras, esta coleção está dedicada a textos literários, ensaísticos, históricos e poéticos que, cartografando rotas de fuga, invoquem outros fugitivos.